terça-feira, 26 de março de 2013

Eu enxergo com as mãos


Storytelling



A pequena Thacyanny e sua avó, Antônia, saíram de casa pouco depois das seis horas naquela manhã de segunda-feira, mas só chegaram à Fundação Dorina Nowill para Cegos às 10h.

Para percorrerem os mais de 40 quilômetros de Guaianases (extremo leste da Capital paulista) até à Vila Mariana, Thacy e Dona Antônia precisam pegar, toda semana, uma perua até a estação de trem, viajar até a Estação Sé, fazer baldeação e, depois, pegar o metrô, que para a cerca de um quilômetro da sede da Fundação Dorina.

O que já é naturalmente difícil, fica ainda mais complicado quando Dona Antônia precisa enfrentar todo esse caminho para levar, em horário de pico, a neta de apenas cinco anos para fazer seu tratamento na Fundação Dorina. "Preciso carregá-la no colo, pois é gente demais dentro do trem e tenho medo que eles machuquem a Thacy. Às vezes as pessoas até cedem lugar, mas é comum fingirem que estão dormindo", diz.

A história de Thacy
Thacyanny é uma menina encantadora e espertíssima que, antes dos quatro meses de vida, foi vítima de um câncer (retinoblastoma ) que levou a extração de seus dois globos oculares. A avó conta que a demora no diagnóstico foi decisiva para que a menina ficasse cega dos dois olhos. "Na época, a pediatra disse que não era nada e não encaminhou ela para um oftalmologista. Mas, meses depois, a minha filha, mãe da Thacy, viu que o olhinho esquerdo tinha um brilho estranho e decidiu procurar um outro médico. Daí já era tarde demais, porque o câncer já tinha passado para o olhinho direito", lembra Dona Antônia.

Dona Antônia conta que no início foi tudo muito triste. "Quando começou a perder de vez a visão, aos dois anos de idade, era muito difícil ouvir minha neta falando 'Vovó, acende a luz, pois está tudo muito escuro e eu estou com medo!' Eu sofria porque ela sofria".

Mas, aos poucos, a família foi se acostumando ao ver que Thacyanny reagia bem à nova realidade. "Ela é muito inteligente, tem noção de seus problema de visão e das suas limitações, mas nunca deixou de ser uma criança muito ativa. Ativa até demais!", brinca a avó.

Tanto que, com uma simpatia cativante, Thacy nos surpreende ao dizer: "Sabia que eu não enxergo com os olhos? Eu enxergo com as mãos!"

E é exatamente esse estímulo tátil que a menina vem recebendo nesta etapa do tratamento da Fundação Dorina: o uso de brinquedos pedagógicos, como massinha, dominó, joguinhos de montar estimulam o tato e desenvolvem na criança cega e com baixa visão a percepção necessária para que ela descubram o mundo à sua volta.

Uma rotina difícil
Para cuidar da neta, dona Antônia precisou parar de trabalhar. Diariamente, ela leva e busca Thacyanny até o ponto da van escolar. Duas vezes por semana, vai com a neta até a escola especial, onde Thacy aprende o braile. Regularmente as duas vão até o hospital no qual a menina faz o controle do câncer e também à clínica responsável por suas próteses oculares. Além disso, a rotina delas incluiu, também, que toda segunda-feira avó e neta cruzem a cidade até a Fundação Dorina, que é onde Thacyanny reforça o aprendizado do braile e recebe atendimento pedagógico, psicológico e de mobilidade.

Ao chegarem na Fundação, pacientes e acompanhantes são recebidos com um carinho e zelo imensos, vindos de toda a equipe: dos recepcionistas aos profissionais de saúde. Mas, em alguns setores, a estrutura da Fundação Dorina está deixando a desejar por não conseguir oferecer às pessoas o conforto que elas tanto merecem. "Depois de sofrer tanto para chegarem à nossa sede, gostaríamos de oferecer o melhor para que nossos pacientes e familiares sintam-se acolhidos e recepcionados da melhor forma possível", ressalta Eliana Cunha Lima, gerente dos Serviços Especiais.

Segundo Eliana, o piso tátil da recepção (piso com textura e cor especiais, que orienta os passos e é fundamental para oferecer autonomia e segurança no dia a dia de pessoas com deficiência visual e pessoas com baixa visão) já está gasto e alguns trechos estão descolados, os bancos de espera precisam ser substituídos, o balcão de atendimento é alto e desconfortável e os banheiros precisam de adaptação.

"A maneira como recebemos as pessoas faz parte do processo de aderência ao tratamento. Nossos pacientes vêm aqui semanalmente durante meses e alguns até anos. Esse cuidado tem que ser tomado, pois queremos que todos eles tenham prazer em vir e deem, assim, continuidade  ao tratamento. Afinal, muitos estão aqui pela esperança de conquistar a felicidade para um filho, na chance de transformá-lo em um cidadão", explica Eliana. "Se o caminho até aqui já é tão longo e penoso para eles, que, ao menos, consigamos recebê-los da mesma forma como nós mesmos gostaríamos de ser recebidos", conclui.

A Fundação Dorina precisa de você. Ajude-nos a reformar a sala de espera de nossos pacientes. Com a sua ajuda iremos conseguir oferecer a todos o conforto que eles tanto merecem, nesta jornada longa e muitas vezes sofrida, mas que pode, também, estar repleta de generosidade.

www.fundacaodorina.org.br

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