sexta-feira, 1 de maio de 2015

A história de Aléxia

"Se depois de tudo o que ela viveu ela é feliz desse jeito, como eu posso achar difícil alguma coisa nesta vida?"



Alexandro sempre pedia um irmãozinho para os pais. Cleide e Antônio, moradores do Morro do Índio, em São Paulo, bairro próximo ao Capão Redondo, decidiram, oito anos depois de terem o primeiro filho, que aquele poderia ser o momento de ter mais um bebê.

Aos 32 anos, depois de muito tempo tomando anticoncepcional, o médico advertiu à mãe: "Não crie muitas expectativas. Pode ser que demore". Mas, para surpresa de todos, poucos meses depois Cleide descobriu que estava grávida novamente.

Assim que fez o primeiro ultrassom, ouviu da médica: "Mãe, são duas meninas."

"Eu dei foi risada. Falei com ela: 'Menina, tu tá ficando doida?!", relembra Cleide. Pouco depois, a mesma médica anunciou outra surpresa: "Mãe, uma delas tem Síndrome de Down".

Naquela hora eu fiquei muito assustada e a única coisa que eu pensei foi 'Como eu vou fazer para criar dois anjinhos desses, meu Deus?" Depois de conversar com o marido, que também ficou muito apreensivo, o casal ponderou: "Se Deus deu, nós vamos achar um jeito de criá-las com muito amor."

Durante a gravidez, Cleide teve início de trombose e precisou ficar em casa, de repouso. Recebeu do filho e do marido todo o carinho possível e assim passaram-se alguns meses da gestação.

Apesar das complicações, a médica dizia que o parto das gêmeas tinha tudo para ser normal. Até que, no dia do chá de fraldinha, no sexto mês de gestação, Cleide começou a passar mal e foi correndo com o marido para o Hospital do M'Boi Mirim. Chegando lá, assim que a mãe foi examinada, para a surpresa de Antônio o médico perguntou: "Pai, você quer que eu tente salvar primeiro a mãe ou suas filhinhas?"

Desesperado ante a uma escolha tão cruel, chorando, Antônio pediu ao médico que salvasse a esposa, mas que fizesse tudo o que fosse possível para que as filhas sobrevivessem. Apesar de toda a angústia, as duas meninas nasceram vivas e Cleide passou bem após o parto. Alexia, pesando 970 gramas, e Alice, que era o bebê com Síndrome de Down, nasceu um pouco mais gordinha, com 1,09 quilo.

Recomposta do parto, assim que viu as filhas entubadas, Cleide não aguentou a emoção e desmaiou. Para complicar, neste mesmo dia, Alexia sofreu quatro paradas cardíacas e precisou passar por um procedimento para a colocação de um cateter. Depois disso, o casal sofreu mais um duro golpe: o médico veio até eles dizer que havia grande possibilidade de Aléxia falecer.

Mas o casal, muito unido, seguiu firme. Antônio voltou a trabalhar e Cleide ia todos os dias ao hospital para amamentar e visitar as meninas.
Enquanto Alice se mantinha estável, sem grandes complicações, Alexia havia sido diagnosticada com uma série de problemas que, para os pais, parecia desesperadoramente interminável: hidrocefalia, broncodisplasia, pneumorotax, brondisplasia pulmonar, além de ter sofrido hemorragias intecraniana e pulmonar. Apesar de ter passado por cirurgias, a cabeça de Alexia crescia, crescia e o líquido precisava ser drenado a cada três dias.
 
Um dia, logo depois de ir ao hospital dar de mamar às filhas, Cleide atendeu uma ligação: "Mãe, a senhora venha aqui, pois a gente precisa conversar."

"Nessa hora, eu liguei desesperada para a minha mãe e disse: 'Mãe, acho que a Aléxia faleceu", relembra muito emocionada.

Ao chegar ao hospital, Cleide e o marido foram, mais uma vez, surpreendidos pela notícia: "Mãezinha, sua filhinha Alice morreu...."

 No dia seguinte, o bebê foi enterrado e, como por um milagre, a partir de então Alexia começou a melhorar subitamente. "Alice foi o anjinho que cuidou da irmã", conta a mãe, muito comovida.

Pesando menos de quatro quilos, Alexia foi submetida a uma nova cirurgia, desta vez para a implantação de uma válvula que substituiria uma veia entupida. 

Depois disso, aos poucos a menina levou alta e começou a melhorar a olhos vistos. Quando tinha de cinco para seis meses, o bebê passou a ser atendido pela APAE, onde uma das médicas diagnosticou que a menininha tinha baixa visão. Recomendou, então, que a mãe procurasse imediatamente a Fundação Dorina Nowill para Cegos.

"Ah, depois que ela começou a vir para a Dorina, a minha menina se desenvolveu muito! Ela foi para a fisioterapia, melhorou os movimentos, já firma as perninhas e a postura está mais retinha, olha só! A gente percebe o desenvolvimento dela dia após dia", comemora Cleide.

A casa da família fica muito distante do ponto de ônibus. Para chegar até lá, Cleide anda com Alexia no colo por quase dois quilômetros, em ruas íngremes e de calçamento muito precário. Apesar disso, ela diz que espera ansiosa pelo dia de levar a filha até a Fundação Dorina, que fica a mais de 22 quilômetros de distância, do outro lado da cidade: "O tanto que minha menina gosta de ir lá e o tanto que o tratamento da Dorina vem sendo bom para ela compensam qualquer problema que eu tenha que enfrentar. Eu vou feliz da vida, pois eu sei que ela está feliz ", alegra-se a mãe.

"Só de pensar que outro dia mesmo o dedinho dela parecia um palitinho. A orelha era só uma pelinha de nada grudada na cabeça... Hoje, quando a Alexia acorda de manhã, sorridente como você está vendo, mesmo sem enxergar quase nada, eu ganho forças para enfrentar quantos problemas eu tiver que passar. Se depois de tudo o que ela viveu ela é feliz desse jeito, como eu posso achar difícil alguma coisa nesta vida?", pergunta a mãe.   


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