sábado, 24 de dezembro de 2011

Aquilo que nos manda o coração





Há cerca de 9 anos fui a Itinga, cidade mineira localizada no Vale do Jequitinhonha, conhecer o projeto que a Visão Mundial estava inaugurando. Para aproveitar a viagem, levei comigo uma cesta bem grande, presente que uma madrinha nos pediu para entregar à afilhadinha que ela acabava de apadrinhar.

O ônibus chegou bem cedo, mas já dava para sentir o forte calor da região. Passei o dia conversando com os moradores, especialmente da periferia, como forma de conhecer melhor a cidade. Água poluída, falta de saneamento básico, desemprego e um altíssimo índice de alcoolismo.

Era muito comum ver nas ruas de terra batida de Itinga crianças visivelmente desnutridas e doentes, todas com a barriguinha inchada, bem saliente. Uma mãe chegou a me dizer que quando faltava dinheiro para o leite, ela dava um jeito de comprar “caninha” para que a criança bebesse e parasse de chorar de fome. Além de registrar altos índices de desnutrição infantil, a cidade sofre com a exploração de mão de obra infantil, baixo nível de escolaridade e também com alta incidência de violência e mortes por armas de fogo.

Tudo isso me fez entender o por quê de a Visão Mundial ter escolhido Itinga para instalar um de seus projetos. A necessidade se fazia urgente.

Neste mesmo dia à tarde, fui entregar a cesta enviada pela madrinha. Ao chegar à casa da menina, imediatamente a mãe me apresentou todos os seus seis filhos e me contou que a menorzinha havia sido enterrada poucos dias antes. “O médico não descobriu o que ela tinha. Mas eu sei que foi por causa da água suja daqui.” Em seguida, como que resignada, a mãe mudou de assunto e decidiu me apresentar a pequena Marlene, a menina que iria receber de minhas mãos o presente enviado pela madrinha. Depois do falecimento da irmã, Marlene era a nova caçulinha da casa e a única, até então, que havia sido apadrinhada: “Essa é sortuda, acabou de ganhar uma madrinha de presente”, comemorou a mãe.

Marlene era como a maioria das crianças que vi andar pelas ruas de Itinga: mirradinha, meio amarelinha, meio triste. Conversei um pouquinho com ela, mas não quis adiar muito a entrega do presente. A cesta grande parecia ainda maior em frente à pequena menina. Os olhos curiosos da criança desnutrida não entenderam muito bem quando coloquei o presente na frente dela. Marlene olhava imóvel para a cesta, olhava para mim, voltava a olhar para a cesta. Até que eu disse: “É para você; é sua, pode abrir.” Os olhos dela foram então para a mãe, como que pedindo permissão para acreditar em tudo aquilo.

Marlene hesitou um pouco mais até que, com a minha ajuda, começamos a desembrulhar o presente. Quando sentiu que realmente podia abrir aquele embrulho, que tudo aquilo era mesmo seu, a ansiedade típica das crianças que ainda acreditam em sonhos invadiu aquele corpinho e, em poucos segundos, ela rasgou todos os enfeites que a separavam do presente.

Quando, enfim, se deparou com tudo o que a cesta trazia, Marlene ficou alguns segundos muda, atônita, sem acreditar no que seus olhos insistiam em enxergar: bombons, balas, biscoitos, sucos, geléia, pés de moleque, pipoca, chocolates redondos, quadrados, compridinhos, tudo em fartura e com as mais coloridas e variadas embalagens.

Imediatamente, Marlene, que estava agachada, se levantou carregando no colo aquela cesta cujo peso devia ser quase igual ao seu. Ela abraçava tudo aquilo com uma força desesperada, uma obstinação que conferia a ela a certeza de que nada ali era um sonho prestes a acabar.

Neste momento, ela começou a andar com a cesta nas mãos. Quando imaginei que ela ia para o quarto onde dormia, guardar a cesta, Marlene atravessou a porta da casa e colocou o imenso presente na calçada da rua. Lá fora ela se pôs a gritar, convocando toda a meninada da rua: “vem, gente, vem, gente, corre, tem doce, tem doce!!”

Meio minuto depois a cesta de Marlene estava vazia. Vi que ela estava feliz, com um pirulito na boca enquanto cada criança da vizinhança trazia um doce na mão. Marlene, então, se voltou para mim e me deu um abraço apertado. Demorado e apertado.

No instante em que durou aquele agradecimento tão estreito e sincero, tive a certeza de que nós, adultos imperfeitos, e ao contrário do que muitos dizem, nascemos generosos. E pensei que é justamente por isso que devemos zelar para que o mundo injusto e desigual no qual vivemos não extraia o que naturalmente as crianças trazem consigo: a crença que o melhor exemplo é mesmo aquilo que, espontaneamente, nos manda o coração.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Um pedacinho de Itinga em nosso coração



O casal Marília Juliano Bugni de Mattos, dentista, e Tomás Holland Wey, engenheiro de telecomunicações e analista de marketing, apadrinham ao todo quatro crianças pela Visão Mundial: Vitória e Edmilson, de Fortaleza, Joyce, de Itinga (MG) e Carla, de Maceió (AL). Entre os dias 26 e 30 de setembro deste ano os dois estiveram em Itinga para conhecer a afilhada mineirinha e também para empreender um trabalho social com crianças daquela cidade. Marília prestou mais de 60 atendimentos odontológicos gratuitos e distribuiu 1252 kits de escovação a crianças de 10 creches e escolas municipais. Já Tomás, orientou a meninada a como escovar os dentes direitinho, alegrando a todos com sua fantasia de palhaço.

“O pessoal do PDA Itinga se organizou e nos ajudou em tudo. Eles já haviam feito previamente uma triagem e marcado pacientes que foram atendidos em um consultório da prefeitura”, relata Marília. “Para a minha sorte, a Mônica, uma das funcionárias da AMAI (agência parceira da Visão Mundial no PDA Itinga), foi auxiliar de dentista durante sete anos e enriqueceu nosso projeto, pois melhorou a qualidade do meu trabalho me auxiliando tanto no consultório quanto nas escolas”.

Marília conta que, nas escolas, o casal optou por atender crianças da 5ª série, pois, nesta idade, elas têm mais dentes permanentes já irrompidos que poderiam estar cariados. “A técnica aplicada foi o TRA*, que é rápida, simples e eficiente. Tiramos o tecido amolecido (cárie) e preenchemos a cavidade com um material chamado ‘ionomero de vidro’. As crianças atendidas tinham condição bucal ruim, muitas já perderam dentes permanentes e todas tinham cárie”, relata.

A ideia de viajar para desenvolver um projeto social era um sonho antigo do casal. “Já tínhamos vontade de visitar algum PDA da Visão Mundial. Apesar de receber as notícias pelos informativos, estar no local é totalmente diferente. Tínhamos vontade de poder contribuir também com nosso tempo e nossos talentos. Foi por isso que optamos por fazer uma ação odontológica e também usar a linguagem do palhaço (eu faço teatro amador e estudo clown há cinco anos) para fazer a prevenção, ensinando às crianças  como escovar os dentes”, conta Tomás. “Além desses atendimentos, foi muito bom conhecer a dinâmica do PDA, a quantidade de ações distintas que são realizadas, além de compreender melhor como funciona o programa de apadrinhamento e a gestão dos recursos”.

“O maior valor do programa de apadrinhamento não é financeiro e sim afetivo”
Para Marília, conhecer a Joyce, uma de suas crianças apadrinhadas, foi um dos pontos altos da viagem: “Foi muito gostoso ver aquela menina meiga de perto. Ela estava um pouco tímida no começo, mas logo começou a conversar e me mostrou um trabalhinho que fez na escola para o Dia das Mães. Fiquei feliz ao conhecer a família dela, uma família amorosa, e também muito emocionada ao ver uma foto minha na estante da sala. A visita nos aproximou; quero continuar a mandar e receber notícias, acompanhar o crescimento daquela florzinha e ajudar no que puder. Desejo ser uma amiga que faz parte da história da Joyce”, emociona-se. “O que fizemos foi bem pouco perto da necessidade daquela população. Valeu muito mais por ter conhecido pessoas maravilhosas, que vivem pra ajudar outros”.

O impacto de uma simples foto
“Foi através da visita que pudemos compreender que o maior valor do programa de apadrinhamento não é financeiro e sim afetivo”, avalia Tomás. “A maioria das famílias tem muita curiosidade de conhecer os padrinhos e de poder trocar cartinhas; isso faz muita diferença para eles. É algo que não tínhamos noção”, diz. “Marcou muito saber que a Joyce guardou a foto que a Marília havia enviado há algum tempo, e ainda mais ao saber que a menina juntou seu dinheiro para comprar um porta-retrato e colocar essa foto na estante da sala. Isso nos emocionou bastante, pois jamais poderíamos imaginar o impacto de uma simples foto para eles”.

Hoje, Marília e seu noivo fazem um balanço emocionado da verdadeira experiência de vida que trouxeram de Itinga. “Eu compreendi melhor o papel da Visão Mundial e fiquei com mais vontade ainda de ajudar”, diz a dentista. “Ao mesmo tempo em que nos sentimos impotentes diante de tanta necessidade, voltamos com a certeza de que em algum momento Deus sonhou com essa ação em Itinga. Voltamos para São Paulo com um pedacinho de Itinga no nosso coração”, conta Tomás.


A Visão Mundial na vida de Tomás e Marília
Tomás conheceu a Visão Mundial na IBAB (Igreja Batista de Água Branca – IBAB) há 10 anos e, desde então, tornou-se um padrinho. “Achei o programa muito interessante, eficaz e a quantia mensal é bem reduzida se comparada com a amplitude daquilo que os projetos oferecem.” Já Marília decidiu se tornar madrinha depois de ver a foto da afilhada de Tomás: “Ao ver a foto dela, fiquei curiosa pra saber a história daquela menininha. Foi assim que conheci a Visão Mundial. Gostei do programa de desenvolvimento de área, vi um livro na casa dos pais do Tomás com fotos de PDAs e decidi apoiar a causa. Hoje apadrinho três crianças!”

Generosidade em vídeo
A viagem de Marília e Tomás a Itinga rendeu um lindo vídeo que o casal postou no YouTube. Clique aqui e assista a essa verdadeira transformação social que um casal tão solidário, generoso e abençoado promoveu na vida das crianças moradoras de uma cidade, cenário de tanta miséria e tão desamparada pelo poder público, porém repleta de pessoas que, assim como Marília e Tomás, sabem como ninguém nos tocar o coração. 

* Técnica da Restauração Atraumática (TRA)

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Os bons sentimentos estão por aí, diluindo aos poucos o egoísmo que tanto maltrata


Fui hoje à tarde e agora à noite "panfletar" e fazer propaganda da apresentação que o Jorge Vercillo fará nesta quinta-feira em Belo Horizonte e cuja bilheteria será totalmente revertida para o "Espaço Amigável para Crianças" que a Visão Mundial mantém em Nova Friburgo (RJ). À noite, passei pelas ruas dos bairros Carmo Sion, Anchieta, Cruzeiro e São Pedro entregando folders às pessoas que estavam em bares e restaurantes dessa região. Já à tarde, andei bastante pelas imediações da Assembleia Lesgislativa e na Avenida Álvares Cabral.

Para aproveitar ao máximo a caminhada, sempre que me encontrava com um taxista, perguntava se ele poderia ficar com alguns dos panfletos e divulgar o evento aos seus passageiros. Todos, sem exceção, toparam ajudar com muita simpatia. Um deles, estacionado à frente do São Francisco Flat, pegou uma boa quantidade de material. Muito simpático, disse: "Deixa comigo". Continuei descendo a avenida em direção à Rua São Paulo. Quando voltei, encontrei esse taxista (puxa, como me arrependo de não ter perguntado o nome dele...) não apenas me ajudando a divulgar o show, como estava de pé na calçada, entregando folhetos a todos que passavam por ali.

Imediatamente abri um largo e agradecido sorriso e disse: "Nossa, muito obrigada, isso é muito mais do que eu poderia pedir", ao que ele respondeu do alto de seus quase dois metros de pura gentileza: "Vamos todos fazer a nossa parte. Acredito em você, acredito na Visão Mundial, acredito que devemos nos preocupar mais uns com os outros."

Depois dessa pensei o quão grata eu sou por fazer parte de uma organização como a Visão Mundial. A gente trabalha com amor, poramor e, obviamente, Deus nos dá amor em troca. Muito amor, aliás. A atitude desse taxista reflete, na verdade, os bons sentimentos que existem na grande maioria das pessoas. Eles estão por aí, permeando de amor este mundo tão desigual, diluindo aos poucos o egoísmo que tanto maltrata, que tanto abate nossa esperança.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

São pessoas doces assim, generosas assim, que constroem a Visão Mundial, um pouquinho a cada dia


Seu Pedro tem 87 anos e desde o ano 2000 é um padrinho da Visão Mundial. Ele apadrinha o garoto Vinícius, do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, uma das regiões mais pobres e desiguais do País.

Todos os meses, Seu Pedro faz questão de ir pessoalmente ao escritório da Visão Mundial, em Belo Horizonte, para pagar seu “carnezinho” de apadrinhamento. Cavalheiro e afetuoso que é, leva sempre uma caixa de bombons para as meninas da Central de Atendimento.
Seu Pedro, que esteve ontem no escritório de Belo Horizonte para pagar sua contribuição pelo apadrinhamento do menino Vinícius e, como sempre, levando uma deliciosa caixa de bombons para as meninas da Central de Atendimento.
Foto: Léa Sá 

“Já passei muita coisa nesta vida e por isso eu sei como é importante ajudar quem precisa. Não tenho muito, se pudesse doaria mais. Então, por que não compartilhar esse pouquinho que construí até aqui?”

Veja abaixo a alegria de toda a equipe de Belo Horizonte, depois da visita doSeu Pedro. Falem a verdade: não é uma equipe linda e super-alto astral????
Léa é a que está com os bombons nas mãos (não é boba nada!), o Rildo é esse ao lado dela, de camisa verde. O outro rapaz, atrás da Léa, é o Samuel. Lá no fundo, da esquerda para a direita: Josi, Ana Cristina, Natália, Eliana, Junia Souza, Cássia Caroline e Flávia. Na frente, da esquerda para a direita: Samara (de blusa vermelha), Ana Claudia, Junia Mara e Luciana! Sortuudos!! 

sexta-feira, 17 de junho de 2011

"Olá, boa tarde! O senhor já conhece o trabalho da Visão Mundial?"


Quatro jovens compõem um grupo que, diariamente, vem apresentando a Visão Mundial pelas ruas de São Paulo. Jefferson PedaceCaio WasedaWilliam Santos e Luíza Mesquita já estiveram esta semana pela região da Avenida Paulista, Brigadeiro Luís Antônio, Higienópolis e, hoje, marcaram presença na Praça da República, região central da capital paulista.

Vestidos com camiseta laranja e identificados com crachá funcional, os quatro abordam os passantes, num trabalho batizado de Face to Face. De forma atenciosa, eles apresentam a organização às pessoas e oferecem a todos a oportunidade de apadrinharem uma criança pela Visão Mundial. Até o momento os resultados têm sido surpreendentes e o grupo já conseguiu vários novos padrinhos e madrinhas!

O trabalho, claro, não é fácil. Na correria de uma cidade grande, conseguir atenção de alguém não é tarefa fácil. "O difícil é fazer as pessoas pararem. Mas depois que conseguimos a atenção delas e temos a chance de apresentar o trabalho que a Visão Mundial desenvolve com as crianças, todas se encantam pelo trabalho da organização", conta Luíza, líder da equipe.

De laranja (da esquerda para a direita): Jefferson, Caio, Luíza e William. No alto, Paulinho Bregantin, assistente de Comunicação da Visão Mundial e integrante da equipe de apoio do projeto Face to Face. Na parte de baixo está a Chiquinha, esse vira-latas fofo que visitou a equipe na tarde de hoje, na Praça da República, em São Paulo.

William diz que algumas pessoas, por ainda não conhecerem a Visão Mundial, ficam inseguras de apadrinhar uma criança a partir de uma abordagem na rua. "Mas quando isso acontece, faço questão de pedir a elas que levem o folder da organização para que elas possam conhecer melhor o trabalho desenvolvido pela Visão e, depois, apadrinharem uma criança pelo site. Todas elas ficam tocadas quando conhecem melhor o projeto e quando ficam sabendo o que a Visão Mundial faz pelas crianças."

A experiência de Jeferson não é diferente. Ele se empolga quando as pessoas se interessam pelo trabalho da equipe e, mais ainda, quando demonstram interesse em conhecer mais a história da Visão Mundial. "Só o fato de pararem para nos ouvir com atenção já incentiva o nosso trabalho", diz.

Caio ressalta que é muito comovente perceber que algumas pessoas, mesmo impedidas de ajudar no momento, fazem questão de guardar o folheto que explica como é o trabalho da Visão Mundial para, futuramente, poderem apadrinhar uma criança. "Muitas dessas pessoas estão desempregadas. E elas ressaltam que, justamente por saberem o que é passar dificuldades querem muito, um dia, poder ajudar quem precisa."

quinta-feira, 9 de junho de 2011

São José da Tapera e Visão Mundial: muito já foi feito. Ainda mais se faz urgente e necessário


São José da Tapera é um município do estado de Alagoas, que tem hoje cerca de 31 mil habitantes e apresenta um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,529. Trata-se de uma comunidade rural, que tem como fonte de geração de renda aagricultura e a criação de animaisÉ um dos municípios mais pobres do Brasil. A região é marcada pela miséria, altos índices de desnutrição e mortalidade infantil, condições precárias de saúde e moradia e pela falta de informação na utilização dos recursos naturais.

A fonte de geração de renda das famílias vem do descasque de alho. A região sofre com a exploração de mão de obra infantil, com os altos índices de desnutrição infantil, diversos casos considerados de risco social, alto índice de violência e mortes por armas de fogo e o baixo nível de escolaridade. O índice de mortalidade infantil chega a 60 crianças por 100 mil habitantes, a porcentagem de analfabetos é de 50% e o abastecimento de água é feito com alguma regularidade.

Mortalidade infantil - São José da Tapera (Fonte DataSUS)
Índice registrado em 1997 reflete subnotificações

Se hoje a realidade de São José da Tapera é preocupante, há cerca de 10 anos, em 2000, a situação do município era ainda piorconsiderada a cidade mais pobre do país, apresentava um IDH de 0,265, um índice de mortalidade infantil de 65,94, comparável ao dos países mais miseráveis do mundo. Em meados de 1990, a cada mil crianças nascidas vivas no município 148 morriam antes de completar um ano. Nos primeiros meses de 1999, foram registrados índices absurdos de 307 mortes para cada mil crianças nascidas vivas, a maioria delas vítimas da desnutrição e da diarréia, provocada pela água contaminada.

A morte de crianças com menos de um ano de idade era tão corriqueira que armazéns comercializavam pequenos caixões como um item trivial.

Imagem: TV Cultura

No início desta década, cerca de 95% dos moradores da cidade não tinham esgotoe só 30% deles recebiam água nas torneiras, e mesmo assim, apenas uma vez por semana. Para piorar ainda mais a situação, 70,5% da população era analfabeta.

Foi esse cenário vergonhoso que chamou a atenção da Visão Mundial que decidiu, em 1998, levar até a região o programa emergencial SOS Seca, em resposta à situação de miséria na qual se encontrava o município. No ano seguinte, em 1999, a Visão Mundial cadastrou famílias, passou a distribuir cesta de alimentação e a fornecer um complemento alimentar à base de proteínas, vitaminas, cálcio e sais minerais, chamado de multimistura, para cada criança desnutrida. Em pouco tempo, o índice de desnutrição número infantil caiu mais de 70%.


Desde então, o trabalho da Visão Mundial em São José da Tapera não parou mais. Foram iniciados ainda projetos como o Banco de Sementes, pelo qual cada agricultor recebe um saco de sementes, planta, colhe e devolve outro saco de sementes para beneficiar outros agricultores; a Semente de Moringa, um processo natural de purificação da água; e a distribuição de rebanhos caprinos para alguns moradores.

A Visão Mundial construiu também 416 cisternas - tanques para armazenamento de água da chuva, distribuiu centenas de toneladas de sementes de feijão e doou ao município uma fábrica de multimistura, cuja produção atual chega a cem quilos por dia e é oferecida como suplemento alimentar a todas as crianças que estão nas creches. Hoje, todo esse trabalho vem sendo feito em parceria com a Prefeitura de São José da Tapera, Pastoral da Criança e também organismos do Governo Federal.

Além de tudo isso, a Visão Mundial orienta os moradores de São José da Tapera sobre aprevenção de doenças, higiene, planejamento familiar e também sobre o preparo e aplicação de remédios caseiros com plantas da Caatinga. Além disso, desperta na comunidade o interesse por práticas de desenvolvimento sustentável, como a construção de cisternas, a produção agrícola e a criação de animais adaptados para a região do semi-árido o que, consequentemente, faz aumentar a geração de renda.


A Visão Mundial promove também o fortalecimento das expressões artísticas e culturais da regiãoincentivo à leitura, grupos de teatro, capoeira e danças regionais além de estimular o empoderamento comunitário, através da formação de lideranças capacitadas e ativas na participação política e na reivindicação dos direitos sociais.

Apesar de ser um município ainda extremamente carente, o desenvolvimento de São José da Tapera, ao longo da última década, mostra que com a reunião de políticas públicas corretas, assistência social, incentivo ao desenvolvimento auto-sustentável e a formação de parcerias sólidas e eficazes com outras organizações não-governamentais, empresas e organismos públicos, é possível transformar a vocação miserável de uma região em um ambiente próspero, capaz de oferecer oportunidades dignas aos seus moradores.

Foto: Evandro Teixeira

quinta-feira, 26 de maio de 2011

"Minha cura atravessou o rio"


Azarias Viana, morador da comunidade de Vila Silva, localizada no Paraná do Ramos (afluente do Rio Amazonas), foi uma das muitas pessoas beneficiadas pela ação dos barcos-hospital mantidos pela Visão Mundial e pela Igreja Presbiteriana de Manaus (AM).

Quando um dos barcos aportou naquela comunidade, a equipe de pronto atendimento encontrou o Sr. Azarias em um estado de saúde lastimável. Ele estava isolado, deitado em uma rede e era totalmente discriminado pelos membros de sua comunidade, pois, segundo seus vizinhos, ele havia contraído "lepra". Azarias tinha apenas a companhia de sua mãe, que tentava aliviar seu sofrimento usando um abanador para espantar as moscas que pousavam em seu corpo.

Os médicos do barco-hospital, após examinarem o paciente, descobriram que ele estava sofrendo de um grave processo de infecção cutânea, que causava descamação de toda a pele, do pé ao pescoço, provocando um odor muito forte.

Dr. Seung, médico do barco, iniciou imediatamente um tratamento emergencial e deixou com o paciente medicamentos suficientes até a próxima visita do barco. Cerca de um mês depois, em nova visita à Vila Silva, o Sr. Azarias já apresentava sinais evidentes de melhora e após três meses de tratamento, com a supervisão do barco-hospital, ele estava curado e sua vida totalmente transformada. "Minha cura atravessou o rio e só chegou até mim por causa desse pessoal maravilhoso do barco-hospital", conta emocionado o Sr. Azarias.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Entrevista Tilman H. Fürniss, especialista em tratamento de casos de abuso sexual infantil


Há alguns anos, entrevistei, pela Visão Mundial, o psiquiatra e sociólogo alemão Tilman H. Fürniss, especialista no tratamento de crianças e adolescentes e membro do Grupo Governamental alemão de Trabalho contra o Abuso Infantil e Negligência. Tilman é co-autor do primeiro projeto europeu para o tratamento do abuso sexual de crianças e adolescentes.

Em homenagem ao dia de hoje, 18 de maio, data em que celebramos o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração contra Crianças e Adolescentes, reproduzo abaixo, a íntegra da entrevista. Acompanhem. A realidade do abuso está impressionantemente próxima de nós:

Ana Drummond Guerra - Dr. Tilman, quais são as formas mais comuns de abuso infantil?
Tilman H. Fürniss - Hoje, levamos a questão do abuso infantil como um caso de maior importância dentro dos Direitos Humanos. Muito frequentemente, as formas de abuso estão ligadas à negligência, ao abuso civil, ou o abuso físico está ligado ao abuso sexual, ou o abuso sexual está ligado ao abuso emocional. Então, fica difícil de se enquadrar. Mas considero importante dizer que qualquer forma de abuso infantil, seja ele físico, sexual, emocional ou negligência, é um grande problema, porque causa consequências enormes no desenvolvimento psicológico e emocional da criança. É muito comum encontrar um ciclo de abuso infantil entre as gerações. A criança que foi abusada, quando adulta se torna abusadora; essa criança abusada cresce e começa a abusar das crianças novamente. Esse ciclo de abuso, com o abuso físico, emocional e a negligência, tem que ser tratado antes que se tornam abuso sexual. O abuso infantil, em todas as suas formas, é extremamente danoso para a criança e é de imensa importância como questão social, legal e de saúde.

Ana Drummond Guerra - Como podemos perceber que uma criança sofreu abuso sexual?
Tilman H. Fürniss - Isso é muito difícil de ser percebido. Se a criança foi fisicamente abusada, você poderá vê-la sangrando ou ver os hematomas. Mas o abuso sexual, por si, só é visível em apenas 10 a 30% dos casos. Na maioria das ocorrências de abuso sexual não é possível identificar nenhum sinal, porque eles podem acontecer sem penetração. Uma das piores formas de abuso infantil, o abuso oral, não deixa nenhum sinal e gera uma confusão enorme, misturando sentimentos de medo e culpa.

Ana Drummond Guerra - O que muda no comportamento de uma criança que sofreu abuso?
Tilman H. Fürniss - Crianças sexualmente abusadas podem demonstrar todo e qualquer tipo de comportamento. É por isso que não se pode simplesmente diagnosticar o abuso sexual, tem que provar que ele aconteceu. Uma criança que sofre abuso sexual pode ter problemas de sono, depressão, anorexia ou outra desordem alimentar. Um jovem pode manifestar agressividade e tornar-se criminoso. Pode haver todo tipo de comportamento sem que nada seja específico. Obviamente, se há um dano físico na região genital, tem-se uma prova. Mas mesmo com danos físicos nessa região, pessoas dizem "a criança se machucou em alguma quina", ou coisas desse tipo. Tem-se que tentar recolher mais informações do que somente sintomas como uma cicatriz, por exemplo. A criança tem que ser poupada. Há indícios de que uma criança pode exibir algum tipo de comportamento sexual, mas isso não é uma regra. Crianças novas, até a idade de 10 ou 12 anos, normalmente não demonstram nenhum tipo de comportamento sexual, porque isso não faz parte do universo infantil. Elas possuem desenvolvimento sexual e vida sexual, mas não há erotismo. Pode haver crianças de 2 ou 4 anos que se masturbam. Mas é claro que não é um ato consciente. Mas caso a criança demonstre um comportamento sexual genital, se ela chega para outras crianças e abre as calças, ou se fala sobre uma relação oral, ou se quer tocar outra criança de uma forma sexual, nesses casos é preciso ficar em alerta. Em contrapartida, isso também poderia acontecer com uma criança que tenha visto uma relação sexual de seus pais. Por isso, temos que ser muito cuidadosos. O mais importante é que o comportamento sexual em crianças pequenas seja cuidadosamente observado.
É frequente que crianças que sofreram abuso se maltratem, ou até mesmo tentem suicídio por se sentirem mal consigo mesmas, por não sentirem mais vontade de viver. Elas se sentem tão sem esperança, achando que ninguém no mundo é capaz de ajudá-las, que se cortam e se maltratam. Às vezes, podem manifestar comportamento agressivo. Temos casos de crianças que fogem de suas casas e quando perguntamos por que, elas não nos dão uma boa resposta. Isso é motivo para ficarmos em alerta.
Há também os sinais físicos. Eu já tive casos de crianças que após terem parado de fazer xixi na cama, aos sete anos, voltaram a urinar novamente na idade de 13, 14 anos. Depois, descobrimos que essa criança foi abusada sexualmente. Esse pode ser um sinal físico. Mas pode haver também indícios comportamentais ou emocionais. Recentemente, eu trabalhei uma menina que cortou todo o seu cabelo e começou a usar roupas largas. Ela não queria parecer uma garota, esperando que, assim, seu pai não abusasse mais dela. Desta forma, qualquer indício pode ser uma evidência de abuso, mas alguns deles são mais importantes, como fugir de casa, autoflagelação, comportamento sexual e, certamente, performances sem incitação ao sexo, ou sinais físicos cuja origem é desconhecida.
O problema é que quase nunca temos a prova através dos sintomas. A prova de que alguém foi sexualmente abusado só é realmente confiável quando a criança responde, em uma conversa, a perguntas como "O que aconteceu?", "Por que você fugiu de casa?" ou "Por que você está se cortando?"

Ana Drummond Guerra - Qual é a melhor forma de abordar uma criança que, suspeita-se, tenha sofrido abuso sexual?
Tilman H. Fürniss - Essa é uma questão muito complicada, porque você não pode simplesmente perguntar "Seu pai colocou o pênis dentro de você?", pois isso manipula a resposta da criança. Mas se a criança não for questionada diretamente, ela não fala. Por isso é tão difícil contar para a criança que você está suspeitando que ela tenha sido abusada. Se a criança diz espontaneamente "Meu pai colocou o pênis dele em mim", então fica mais fácil.  Mas se a criança apenas se comporta de maneira estranha, você tem que pensar, aí é difícil. Por isso, às vezes é uma luta até que uma criança diga alguma coisa. Muitas crianças não querem contar, porque elas são leais. Elas querem que o abuso sexual acabe, mas não querem que seus pais sejam punidos, que vão para a prisão ou que saiam de suas casas. Elas querem ter um pai, mas um pai que não abuse. Então, nós temos que lidar com esses pequenos segredos e tentar falar com as crianças sobre suas ansiedades.

Ana Drummond Guerra - As crianças vítimas de abuso têm consciência de que o que sofreram é errado e prejudicial?
Tilman H. Fürniss - As crianças sabem, porque o abusador diz a elas de alguma maneira que aquilo é errado. Eles mostram através de um comportamento ou dizendo: "Se você disser isso a alguém eu te mato" ou "eu te mando embora". Ou deixam mensagens: "Esse é o nosso segredo, você não pode contar para ninguém." Se uma menina corta o joelho, ela vai imediatamente para a sua mãe e diz: "Olhe, eu cortei o meu joelho". As crianças contam tudo que julgam importante, principalmente se envolver uma criança e seu pai. O abuso sexual é algo muito importante e elas não dizem para a mãe. Por que elas não fazem isso? Porque o abusador deixa claro que ela não deve contar. Ela é ameaçada: "Não diga nada, porque senão mamãe vai chorar" ou "Você será mandada embora". A vida delas é ameaçada. Não é preciso que haja força ou violência. Esse tipo de ameaça, muitas vezes, é o bastante. Existem várias maneiras de se calar uma criança, de fazer com que ela não diga nada, pois, na maioria das vezes, o abuso sexual não é apenas uma ação, mas, sim, um relacionamento contínuo com momentos de abuso.

Ana Drummond Guerra - Quem são as pessoas que usualmente abusam sexualmente de uma criança?
Tilman H. Fürniss - Qualquer pessoa, dependendo de como é definido o abuso sexual. A maioria das formas de abuso sexual com contato físico acontece com alguém da família ou do meio social da criança. Temos, também, um aspecto diferente do abuso sexual, a exploração comercial, como o caso da exploração sexual infantil, que é, obviamente, um caso de miséria, o que é diferente. Mas se a criança não está sendo abusada para fins comerciais, então é comum acontecer com alguém da vizinhança, família, pai, padrasto, tio, irmão e também mães: cerca de 10 a 15% dos casos de abuso são feitos por mulheres.

Ana Drummond Guerra - O senhor acha que o sexo explorado pela TV pode aumentar a incidência de casos de abuso sexual?
Tilman H. Fürniss - Não acredito que isso seja um dos fatores responsáveis. É muito mais perigoso assistir às cenas de violência e, obviamente, ao sexo violento. Se a criança assistir a uma relação sexual na TV, ela provavelmente só vai ficar assustada caso as personagens em cena façam muito barulho, por achar que estejam sendo machucadas. O erotismo mostrado na TV não é relevante nesse aspecto, sendo esse um problema apenas de ordem moral. O que interfere nesse caso, especificamente, é a demonstração de violência.

Ana Drummond Guerra - Os casos de abuso são um problema social, governamental, familiar ou de todos?
Tilman H. Fürniss - A culpa provavelmente é da biologia e da química. O responsável é a pessoa que abusa. O abuso sexual sempre aconteceu na história. O incesto sempre existiu e o tabu gerado dele é a prova de que pensamentos, ideias e questões do incesto continuam hoje. O responsável é aquele que faz o ato, que na maioria das vezes é o homem e algumas vezes a mulher. É muito importante dizer que o abuso sexual não é um problema das classes mais baixas ou de uma economia fraca. O abusador sexual está distribuído em todas as classes igualmente, mas é diferente no caso do abuso físico. Há mais violência física nas classes baixas, já nas classes altas há mais o abuso emocional. Já tive casos de abusadores que são jornalistas, médicos, advogados, padres. Também aqueles que eram alcoólatras. O abuso sexual pode ser um vício. Uma vez feito o abuso, há o perigo de se fazer de novo e mais seriamente. O abuso sexual normalmente começa na adolescência, em jovens, e não quando já se tem 30, 40 ou 50 anos. É mais frequente uma pessoa de 13, 14, 15 anos começar a abusar. Na fase na qual a sexualidade é desenvolvida, eles se sentem vítimas de suas fantasias; é assim que o abuso começa. O abuso sexual, como outras formas de vício, começa na cabeça de quem age, ao permitir a si mesmo seguir as fantasias sexuais.

Ana Drummond Guerra - Há alguma maneira de se prevenir o abuso sexual?
Tilman H. Fürniss - Primeiramente, começamos com um tratamento e um reconhecimento do caso. Não usamos a prevenção. Temos que conhecer todos os sintomas para saber como tratar a criança. Fazendo assim, nós aprendemos muito mais sobre o comportamento de quem abusa. Tratar a criança já faz parte da prevenção, porque sabemos que é muito mais provável que a criança que foi abusada uma vez seja abusada novamente. Elas se sentem amedrontadas e acham que ninguém é capaz de protegê-las.
Temos que tratar não só as garotas, mas também os garotos que sofreram abusos. Cerca de 25 a 40% das vítimas são meninos. Mas não os vemos porque normalmente eles não dizem nada. Isso porque o "macho man" não pode ser uma vítima. Ele tem que lidar não só com os homens, mas também com as mulheres, que nunca esperam que um garoto venha a ser abusado. Esse menino é muito mais propenso a tornar-se um abusador no futuro.
Temos que tratar também a pessoa que abusa. Tratando das vítimas, conseguimos entender porque várias vezes eles se tornam abusadores. Hoje, temos um grupo de adolescentes entre 12 e 14 anos que realmente são abusadores sexuais. Se eles forem tratados logo que o problema for detectado, estaremos prevenindo o abuso final.
Não é muito bom falar com a criança de forma preventiva. Em programas de prevenção, temos que alertar o público, mas não para a prevenção. Os programas de prevenção são terríveis, porque eles dizem para a criança que se alguém se aproximar com a intenção sexual é só dizer "não" e contar para alguém o que aconteceu; assim o abuso não acontecerá mais. A criança não pode fazer isso. Até mesmo mulheres que são espancadas por seus maridos normalmente não deixam suas casas, nem dizem a ninguém o que aconteceu. Como, então, uma criança seria capaz de fazer isso? É impossível, é loucura, é irresponsabilidade. Já vi garotas que tentaram se suicidar como uma consequência do trabalho de prevenção.   

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Biutiful (Espanha/México 2010)


Javier Bardem está soberbo, como sempre esteve. Assim como em Segunda-feira ao Sol, provou que consegue se doar de forma tão visceral aos seus personagens que dá, ele, tom ao filme. Tanto que o diretor Iñarritu disse que, mesmo sem ter escrito uma linha do texto, Bardem é coautor do personagem. E sua doação suplanta as falas, pois tem um olhar e um gestual que preenchem a tela de uma veracidade por vezes desconcertante, como na cena em que aparece vestindo fraldas geriátricas.

O personagem sustenta o filme, mas, a meu ver, e ao contrário do quem venho lendo por aí, o filme, por sua vez, dá o suporte que o ator/personagem precisa para ser convincente. Assim como na vida, Biutiful traz tudo ao mesmo tempo de forma incessante e sufocante, mas com a percepção de quem extrai mais da vida do que o simples dia-após-dia aparentemente medíocre que nos cerca à tona. Baixemos um pouco mais ao fundo, percebamos nossa volta e nos depararemos com o que Iñarritu nos propõe na tela: a vida dura, má, feia, porém com resquícios aqui e ali de uma doçura que nos mantém a esperança de um porvir com - quem sabe – um pouco mais de alento.

Ficha técnica
Biutiful
Origem: Espanha
Ano de produção: 2010
Duração: 147 minutos
Direção: Alejandro González Iñarritu
Elenco: Javier Bardem, Maricel Álvarez, Guillermo Estrella, Hanaa Bouchaib, Cheng Tai Shen, Luo Jin