domingo, 1 de setembro de 2013

Do tamanho de um passarinho

Storytelling

Fundação Dorina Nowill para Cegos
História de Geovanna

Eliane teve uma gravidez normal até chegar ao sétimo mês. Com muita perda de água,ela correu para o hospital achando que chegara a hora de dar à luz. De Santana do Parnaíba, onde mora, foi correndo para Osasco. Como o hospital de Osasco não teve condições de atendê-la, Eliane foi encaminhada para São Paulo. Ela ficou uma semana internada, até que o bebê nasceu, com apenas um quilo e meio. Assim que nasceu, Geovanna sofreu uma parada cardiorespiratória, o que iria complicar ainda mais a saúde do bebê que nascera prematura."Geovanna nasceu do tamanho de um passarinho", conta a mãe, que até hoje se emociona com a história.Depois de dois dias, Eliane recebeu alta, mas Geovanna permaneceu internada na UTI neonatal. Durante dois meses, todos os dias a mãe saía do Parque Imperial para visitar a filhinha, que estava em um hospital no bairro da Liberdade, região central de São Paulo. "Era muito triste ver meu bebê todo ligado em aparelhos. Um dia, cheguei lá e vi a cabecinha dela raspada de um lado, pois já não havia mais veias para injetar os remédios", relata a mãe.
Aos poucos, Geovanna foi reagindo, ganhando peso até que pôde ir para casa. A mãe, que até então nunca havia segurado a filha, diz que a primeira coisa que Geovanna quis ao ser embalada por ela foi dar sua primeira mamada. "Meu leite não secou e eu pude amamentá-la durante muito tempo ainda".

Tudo ia muito bem, até que, aos quatro meses de vida, Eliana percebeu que os olhinhos da filha não estavam acompanhando os estímulos visuais. "Eu fazia as mesas coisas com meu sobrinhos e vi que eles acompanhavam as minhas mãos. Mas com a Geovanna era diferente. Ela não seguia meus movimentos e isso foi me preocupando muito. Além disso, a cor dos olhos [íris] era bem clarinha, muito mais do que o normal", explica.
A mãe levou Geovanna para fazer todos os exames solicitados e, finalmente, o médico concluiu depois de examinar o ultrassom: "Ela está com um deslocamento irreversível nas retinas dos dois olhos. Não tem mais jeito, mãe, ela nunca mais vai voltar a enxergar."

"Eu fiquei desesperada. Não queria acreditar naquilo. Comecei a procurar outros médicos, mas todos confirmaram o diagnostico. "Entrei em pânico. Não parava mais de chorar. Eu estava revoltada. Minha única filha era cega! Eu não conseguia aceitar isso."

Apesar da deficiência na visão, o desenvolvimento da filha transcorreu normalmente. A mãe conta que a menina começou a falar e a engatinhar na idade certa. "Quando ela andou pela primeira vez, levei um susto! Eu estava na cozinha quando a Geovanna apareceu na porta e disse: 'Mamãe, cheguei." Eu chorei demais. Abracei forte a minha filha e nesse dia vi que Deus estava com ela."

Aos poucos, a mãe precisou ir se acostumando à realidade da filha e, regularmente, leva Geovanna às consultas do posto de saúde. E oi numa dessas consultas que uma médica recomendou que ela encaminhasse a filha até a Fundação Dorina Nowill para Cegos para que a criança pudesse receber o acompanhamento adequado e as orientações necessárias para seu desenvolvimento integral.

"Quando eu cheguei aqui na Fundação, um mundo novo apareceu para mim e para a minha filha. Enquanto a Geovanna ia para a fisioterapia, eu ia para a psicóloga. Eu falava muito sobre a minha revolta, meu sofrimento. Quando me perguntavam se minha filha era cega, eu xingava, ficava nervosa, me descontrolava. Pensava revoltada: ninguém da minha família tem esse problema. Minha avó tem 100 anos e enxerga perfeitamente! Eu só tenho uma filha e justamente essa filha é cega? Mas aos poucos fui me controlando. A psicóloga da Dorina foi me ajudando e, na verdade, eu só melhorei mesmo depois que vim para cá", desabafa a mãe.

Hoje, aos seis anos, Geovanna é uma criança carismática, falante e muito esperta. Mas, apesar de extrovertida, a menina conta que é comum enfrentar problemas na escola: "Às vezes, os meninos não tem muita paciência comigo. Quando eu vou sem querer para a mesa errada, alguns colegas ficam bravos e gritam comigo: "Aqui não é a sua mesa, sua cega!"

Mas Geovanna enfrenta as dificuldades com muita determinação. Uma determinação impressionante para uma criança da sua idade. Ela vai diariamente à escola, onde recebe materiais em braile feitos especialmente pela escola. Uma vez por semana vem com a mãe até a Fundação Dorina, onde já treina a bengala, aprende a formar palavras e a usar a máquina braile. "Quero ser advogada ou cabeleireira", diz Geovanna. Depois pensa um pouco e completa: "Acho que prefiro ser advogada, porque quero prender todas as pessoas más do mundo." Em seguida, Geovanna continua pensativa e pergunta: "Posso falar outro sonho que eu tenho? Quero ter um cão guia bem lindo!"

Apesar de todas as dificuldades, que Eliana enfrentou e enfrenta sozinha, sem a ajuda do marido, ao ver Geovanna crescer, se desenvolver e se tornar uma criança extremamente inteligente e ativa, ela começou a entender que deveria buscar na própria criança a força que ela não tinha, mas precisava para conseguir enfrentar a própria vida. "Antes de eu tinha muito medo. Achava que nada ia dar certo, que eu não ia conseguir enfrentar isso. Hoje eu só sonho coisa boa, principalmente para ela. Sonho em vê-la um dia na faculdade e sei que ela vai conseguir.Às vezes a gente acha que não vai superar uma coisa, mas supera, sim. Por amor e por fé a gente supera."



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