domingo, 1 de setembro de 2013

"Minha esperança não se cansa"

Storytellling

História de João


"Minha esperança não se cansa"

Sandra* teve um pré-natal tranquilo e trabalhou até a véspera do parto. João* nasceu com 40 semanas, com peso e medida muito saudáveis.

Quando o bebê tinha entre quatro e cinco meses, a mãe notou um grau de estrabismo e uma vermelhidão constante em seus olhinhos. No posto de saúde, a médica decidiu encaminhar a criança para uma oftalmologista. Já na especialista, Sandra recebeu uma notícia que a deixou muito preocupada: "Mãe, seu bebê tem má formação nos olhos e esse pode ser um caso de baixa visão".

Aos oito meses, João á não percebia tão bem os focos de luz como antes. Depois de mais exames, ficou comprovado que o bebê estava com catarata em ambos os olhos. Intrigada com o problema, principalmente porque não há registro de ninguém da família que tenha a mesma deficiência, apesar de todas as dificuldades, Sandra continua à procura de respostas. "Demora mais de uma ano para conseguirmos fazer os exames que os médicos pedem. A médica disse que o problema dele é na retina, mas até hoje não sabemos ao certo o que ele tem", desabafa a mãe.

Apesar disso, Sandra não se cansa de buscar uma explicação para a doença do menino. "Trabalho em uma padaria que tem muitos clientes que são médicos. Peco sempre conselhos a eles, na esperança de conseguir uma resposta para o problema do meu filho. Minha esperança não se cansa", diz.

A cada exame que Sandra consegue marcar para João, todos eles muito complexos para uma criança tão nova, mãe e filho sofrem muito: "Ele chora, chora, chora. Eu vou e começo a chorar junto. Queria que fosse comigo todo esse sofrimento".

Com o passar dos anos, Sandra foi aceitando o problema. Por indicação de uma das médicas que atenderam o filho, ela trouxe João  Fundação Dorina Nowill para Cegos. Há dois anos, ele é estimulado por atividades psicomotoras. "No início eu estava muito perdida, muito mesmo. Mas aqui na Dorina eu fui orientada. Hoje, às vezes eu até esqueço que ele tem problema."

Depois de dedicar dois anos totalmente ao filho, Sandra voltou a trabalhar e hoje encara a realidade de uma maneira mais  tranquila. "Não podia ficar mais tempo parada, pois tenho que ajudar meu marido a manter a casa. Como trabalho de domingo a domingo, pedi para folgar nas quartas-feiras, que é o dia que trago o João ara a Fundação Dorina. É impressionante como ele adora vir aqui", conta.

"Ensinei tantas coisas aos meus sobrinhos e, às vezes, fico pensando que terei de achar um jeito diferente de ensinar a ele o que os outros aprenderam vendo. O bom é que aqui na Dorina eles me ajudam a encontrar esse caminho. Aqui eles me mostram que tanto o meu filho quanto eu temos muito o que aprender, graças a Deus."

"Uma das coisas que a fisioterapeuta daqui da Dorina me aconselhou, foi a deixar o João escobrir o mundo por ele mesmo. Hoje, ele vai com a mãozinha e percorre a casa toda, sem medo." João dora brincar de massinha, interage perfeitamente com os amiguinhos e, como qualquer criança da sua idade, adora a Galinha Pintadinha: "Ele sabe todas as músicas de cor", diz a mãe.


Apesar do medo que das prováveis dificuldades que João ai enfrentar quando começar a crescer, Sandra cria o filho para ser um adulto realizado e independente. "Não quero que ninguém tenha dó dele. Ele pode conseguir tudo o que ele quiser. Ano que vem ele já vai para a escola e tenho certeza de que ele vai conquistar muitas coisas lindas. Para ele o mundo sempre foi assim e é assim que ele é e vai continuar a ser muito feliz." 

* Os nomes foram substituídos para preservar as identidades dos personagens

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