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Fundação Dorina Nowill para Cegos
História de Gabriela
"Há tempo para todo o propósito"
Gabriela* mora com os pais num quarto de pensão na
região sul de São Paulo. O local, apesar de pequeno, é extramente limpo e organizado,
graças a todo o zelo de Dora*. O mesmo esmero com o qual a mãe trata a filha
de seis anos. Há um ano, a família veio do nordeste tentar a vida em São Paulo.
Gabriela tem seis anos de idade e nunca enxergou. Fruto de uma gravidez de risco,
ela é hoje a filha única de uma mãe que não pode mais engravidar e que dedica
cada instante da própria vida para cuidar da saúde da menina.
As dificuldades de Dora começaram aos quatro meses de gestação,
quando ainda morava no Recife (PE). "Estava fazendo o pré-natal no posto,
quando o médico achou que a minha barriga estava grande demais. Me pediu alguns
exames e, com os resultados em mãos, me disse: 'Você está com vários miomas,
dois deles imensos. E pode ser que eles não deem espaço para o bebê se
desenvolver".
Dora ficou muito preocupada. Mas, apesar do
diagnóstico, o médico decidiu que só retiraria os miomas quando o bebê
nascesse. "Até o parto eu teria que tomar remédios para evitar
sangramentos, além de muitas vitaminas", conta.
Aos oito meses de gestação, durante uma consulta de
rotina, o obstetra decidiu fazer apressadamente o parto de Dora. "Não deu
tempo nem de ligar para o meu marido. Ele fez a cesariana e naquele momento
decidiu ligar as minhas trompas. Disse que elas estavam com problemas",
diz Dora. Mas os miomas ficaram, devido a outro problema detectado pelo
médico, e seriam retirados,anos depois, juntamente com o útero, os ovários e as
trompas.
Apesar de todas as dificuldades, Gabriela nasceu
saudável, pesando 2,6 quilos e medindo 46cm. Ainda no hospital, o bebê passou
pelo teste do pezinho e, logo em seguida, mãe e filha foram liberadas.
Aos quatro meses, a mãe percebeu uma claridade
estranha nos olhos da filha, mas como a pediatra não pediu exames e disse que
aquilo era normal, a mãe se tranquilizou. "Dava para a gente ver lá dentro
do olho", relata Dora.
Na véspera do aniversário de um ano de Gabriela, a mãe
percebeu algo ainda mais estranho nos olhinhos da filha: "Parecia que os
olhos estavam balançando", conta. Ela foi com a menina para a emergência
do hospital. Chegando lá, Gabriela precisou ser submetida a uma série de exames
que exigiam sedação. "Assim que terminaram, os médicos vieram me dizer que
ela tinha um 'caroço de massa' nos olhos e nos encaminharam imediatamente para
o Osvaldo Cruz. Neste momento eu entrei em desespero, pois sabia que era um
hospital especializado no tratamento de câncer", lembra.
Com uma carta para ser entregue à chefe da pediatria
do Osvaldo Cruz, Dora saiu do hospital em que estava sem nem passar antes em
casa. "Lá, a médica leu a carta, avaliou os exames e, finalmente, me disse:
'Mãe, a gente precisa te dar uma noticia não muito boa: sua filha tem câncer no olho direito, e o tumor já está muito grande.
Mas nós vamos cuidar da Gabriela."
Antes mesmo de entender o que se passava com a filha,
outra notícia brutal foi dada na sequência: "Vamos ter que extrair o globo
ocular esquerdo para evitar que o tumor vá para o nervo óptico", disseram
os médicos à mãe.
"Minha
única filha estava com câncer. E, na melhor das hipóteses, ela ficaria cega.
Como uma mãe consegue sobreviver a isso, meu Deus?", interrogava Dora.
Gabriela foi internada imediatamente e, antes de
voltar ao outro hospital para a retirada do globo ocular, deu início ao
tratamento quimioterápico. Foram ao todo seis sessões, realizadas a cada 21
dias. "Ela perdeu todo o cabelinho, mas resistiu bravamente ao tratamento
tão agressivo", lembra a mãe. Passados quinze dias, Gabriela foi encaminhada
para a colocação de prótese. Enquanto isso, Dora buscava consolo na própria
dificuldade: "Pelo menos restava a ela a vista esquerda".
Mal sabia a mãe que, semanas depois, Gabriela sofreria
novamente com muitas dores e elas teriam que voltar ao hospital para uma nova
consulta de emergência. "Ela chorava, chorava, chorava e se encolhia
todinha. E eu chorava junto".
No dia seguinte, Dora conta que todo o pesadelo
recomeçou, depois de ouvir da equipe médica: "Vamos ter que extrair o
globo ocular direito e iniciar imediatamente
novas sessões de quimio".
"Meu
Deus, eu que sempre tive medo de ter um filho doente, um filho com deficiência.
E agora eu precisava conviver com essa realidade, a realidade assustadora que
tomava conta da minha única filha!"
Dora é uma mulher de muita fé. E é justamente nesta
fé que Dora se agarra com tanta determinação para descobrir caminhos que
possam guiar da melhor forma a trajetória que a filha tem pela frente. "A
Bíblia diz: 'Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para
todo o propósito debaixo do céu. Gabriela é filha da promessa. E eu fiz e vou
fazer o até o impossível para que ela seja muito feliz", garante a mãe.
Gabriela é uma criança criativa, alegre e cheia de
amigas por perto. Recebe muito amor e também muitos limites dos pais, o que
contribui para que ela leve uma vida praticamente normal. Há quatro anos ela
recebeu alta e hoje o câncer está estacionado. Como forma de controlar a
doença, a cada quatro meses a menina repete exames de tomografia apenas como
forma de acompanhamento profilático. Diariamente, Gabriela frequenta a creche e
uma vez por semana comparece com a Mãe à Fundação Dorina Nowill para Cegos,
onde recentemente deu início ao processo de alfabetização por meio da escrita e
leitura em braile.
* Os nomes foram substituídos para preservar as identidades das personagens
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