domingo, 1 de maio de 2016

A história de Marquinho - Parte II


Marquinho tem 12 anos e quem conheceu o menino doente, triste, acuado, que não andava e mal falava de sete anos atrás, mal pode acreditar na criança doce, sadia, inteligente e lutadora que ele é hoje.

Quando ainda era um bebê, sua mãe, Maria Gilma, uma cortadora de cana  do interior de Alagoas, percebeu que algo não ia bem com a saúde do filho. Além de apresentar problemas sérios de desenvolvimento, os olhos de Marquinho eram muito "murchinhos". Depois de passar por inúmeras e frustradas consultas em postos de saúde e hospitais públicos alagoanos, mesmo sem conhecer ninguém Gilma decidiu vir com o filho para São Paulo a fim de encontrar um diagnóstico preciso e um tratamento adequado para ele. "Eu faço o que for necessário por um filho", diz ela; "até passar por cima dos meus maiores medos."

Mesmo sem saber ler e escrever, Gilma desembarcou em São Paulo com Marquinho. Na maior cidade do país, passaram por muitas dificuldades e tiveram até que dormir na rua. Após um ano de insistentes tentativas para conseguir uma consulta para o filho em um hospital público de referência, Marquinho finalmente foi atendido: "Mãe, seu filho é cego", disse-lhe o especialista.

O menino foi diagnosticado com artrite juvenil e uveíte grave, inflamação numa camada do globo ocular. Precisou ficar mais de três anos em fila de espera até conseguir tratamento. "Ele não andava, não conversava, não tinha amigos e era uma criança triste", conta a mãe. "Todas as escolas o rejeitavam, pois diziam que ele não poderia estudar com crianças normais".

Quando completou cinco anos, uma das profissionais de saúde que passaram pela vida de Marquinho aconselhou Maria Gilma a procurar ajuda na Fundação Dorina Nowill para Cegos.  Foi aí que uma nova vida começou para ele.

Após cadastrar o filho na Fundação, rapidamente Marquinho deu início ao tratamento. Ele passou a frequentar semanalmente a Fundação Dorina, onde recebeu todo o atendimento psicopedagógico necessário. Em pouco tempo, aprendeu a ler e a escrever em braile e sua evolução era perceptível.  "Antes, ele chorava muito quando as pessoas falavam que ele não conseguia fazer nada direito", desabafa Maria Gilma. "Mas pouco tempo depois que ele começou a ir para a Dorina, ele já conseguia fazer tudo o que os amiguinhos faziam. O desenvolvimento dele foi impressionante".

Hoje, Marquinho está no 6º ano e sua evolução escolar é absolutamente normal para uma criança da sua idade. Com a ajuda da Fundação Dorina, ele já tem total domínio da bengala, o que lhe garante autonomia não só dentro de casa, como também nas ruas e na escola.

Maria Gilma e Marquinho sabem que os dias de dificuldades ainda não acabaram. Mãe e filho acordam às 4h40 para conseguir chegar às 7h na escola em que ele estuda. "O café da manhã é no caminho para a gente não perder tempo", ressalta Gilma. Como a escola fica muito longe de casa, a incansável mãe espera pacientemente pelo filho durante cinco horas, até que a aula acabe.

Marquinho, segundo a mãe, está mais seguro, mais curioso, mais feliz. "Ele adora estudar. Às vezes, passa das dez da noite e ele ainda está estudando. Ele é um menino tão bom que nem na hora de acordar ele dá trabalho", elogia a mãe. "Meu sonho é que, um dia, ele faça uma faculdade. E do jeito que ele está se desenvolvendo, eu não duvido, não..."

Quem vê a luta diária de Marquinho e Maria Gilma, se surpreende ao perceber que nenhum dos dois lamenta nem o mais severo episódio da dura história que os trouxe até aqui, tampouco a rotina árdua a que ainda estão submetidos. "Se eu tivesse parado, ele também estaria parado. Não penso em tudo o que passamos. Penso em tudo o que conseguimos conquistar e em tudo o que ainda iremos alcançar nesta vida", diz a mãe. "Por isso, tudo o que eu peço a Deus hoje é força, coragem, vontade e saúde."

A cortadora de cana do interior de Alagoas transformou em conquistas todas as limitações que ela e o filho encontraram pela frente. Descobriu um caminho por meio de uma mistura certeira de fé, obstinação e amor que abriu definitivamente para Marquinho as portas de um mundo que a mãe sempre teve certeza de que também é dele.



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