Marquinho tem 12 anos e quem conheceu o menino doente,
triste, acuado, que não andava e mal falava de sete anos atrás, mal pode
acreditar na criança doce, sadia, inteligente e lutadora que ele é hoje.
Quando ainda era um bebê, sua mãe, Maria Gilma, uma
cortadora de cana do interior de
Alagoas, percebeu que algo não ia bem com a saúde do filho. Além de apresentar
problemas sérios de desenvolvimento, os olhos de Marquinho eram muito "murchinhos".
Depois de passar por inúmeras e frustradas consultas em postos de saúde e
hospitais públicos alagoanos, mesmo sem conhecer ninguém Gilma decidiu vir com
o filho para São Paulo a fim de encontrar um diagnóstico preciso e um
tratamento adequado para ele. "Eu faço o que for necessário por um
filho", diz ela; "até passar por cima dos meus maiores medos."
Mesmo sem saber ler e escrever, Gilma desembarcou em
São Paulo com Marquinho. Na maior cidade do país, passaram por muitas
dificuldades e tiveram até que dormir na rua. Após um ano de insistentes
tentativas para conseguir uma consulta para o filho em um hospital público de
referência, Marquinho finalmente foi atendido: "Mãe, seu filho é
cego", disse-lhe o especialista.
O menino foi diagnosticado com artrite juvenil e
uveíte grave, inflamação numa camada do globo ocular. Precisou ficar mais de
três anos em fila de espera até conseguir tratamento. "Ele não andava, não
conversava, não tinha amigos e era uma criança triste", conta a mãe.
"Todas as escolas o rejeitavam, pois diziam que ele não poderia estudar
com crianças normais".
Quando completou cinco anos, uma das profissionais de
saúde que passaram pela vida de Marquinho aconselhou Maria Gilma a procurar
ajuda na Fundação Dorina Nowill para Cegos.
Foi aí que uma nova vida começou para ele.
Após cadastrar o filho na Fundação, rapidamente
Marquinho deu início ao tratamento. Ele passou a frequentar semanalmente a
Fundação Dorina, onde recebeu todo o atendimento psicopedagógico necessário. Em
pouco tempo, aprendeu a ler e a escrever em braile e sua evolução era
perceptível. "Antes, ele chorava
muito quando as pessoas falavam que ele não conseguia fazer nada direito",
desabafa Maria Gilma. "Mas pouco tempo depois que ele começou a ir para a
Dorina, ele já conseguia fazer tudo o que os amiguinhos faziam. O
desenvolvimento dele foi impressionante".
Hoje, Marquinho está no 6º ano e sua evolução escolar
é absolutamente normal para uma criança da sua idade. Com a ajuda da Fundação
Dorina, ele já tem total domínio da bengala, o que lhe garante autonomia não só
dentro de casa, como também nas ruas e na escola.
Maria Gilma e Marquinho sabem que os dias de
dificuldades ainda não acabaram. Mãe e filho acordam às 4h40 para conseguir
chegar às 7h na escola em que ele estuda. "O café da manhã é no caminho
para a gente não perder tempo", ressalta Gilma. Como a escola fica muito
longe de casa, a incansável mãe espera pacientemente pelo filho durante cinco
horas, até que a aula acabe.
Marquinho, segundo a mãe, está mais seguro, mais
curioso, mais feliz. "Ele adora estudar. Às vezes, passa das dez da noite
e ele ainda está estudando. Ele é um menino tão bom que nem na hora de acordar
ele dá trabalho", elogia a mãe. "Meu sonho é que, um dia, ele faça
uma faculdade. E do jeito que ele está se desenvolvendo, eu não duvido,
não..."
Quem vê a luta diária de Marquinho e Maria Gilma, se
surpreende ao perceber que nenhum dos dois lamenta nem o mais severo episódio
da dura história que os trouxe até aqui, tampouco a rotina árdua a que ainda estão
submetidos. "Se eu tivesse parado, ele também estaria parado. Não penso em
tudo o que passamos. Penso em tudo o que conseguimos conquistar e em tudo o que
ainda iremos alcançar nesta vida", diz a mãe. "Por isso, tudo o que
eu peço a Deus hoje é força, coragem, vontade e saúde."
A
cortadora de cana do interior de Alagoas transformou em conquistas todas as
limitações que ela e o filho encontraram pela frente. Descobriu um caminho por
meio de uma mistura certeira de fé, obstinação e amor que abriu definitivamente
para Marquinho as portas de um mundo que a mãe sempre teve certeza de que
também é dele.
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