segunda-feira, 29 de setembro de 2014

"O que ele tem poderia ter acontecido com qualquer criança"

Storytelling


Bruno

Bruno foi um bebê muito desejado. Por conta disso, Fabiana e Agnello fizeram direitinho todo o pré-natal e, por isso, tudo correu tranquilamente na gravidez.

Mas assim que o filho nasceu, a mãe percebeu que as pupilas do bebê pareciam uma gotinha e os olhinhos tremiam muito.

Rapidamente ela levou o filho ao pediatra, que o encaminhou para um oftalmologista. Foi feito um ultrassom e, então, detectada uma miopia altíssima. "Quando ele nasceu, ele teve icterícia. Quando aplicaram os banhos de luz para o tratamento, eles até taparam os olhinhos dele, mas como ele puxava o tampão, acho que foi por isso que ele ficou com o problema", relata Fabiana.

Já em casa, Bruno quase não mamava. "Achei estranho e voltei com ele para o hospital. Ele ficou mais 10 dias internado. Eu ia e voltava do hospital todos os dias, sacudindo dentro do ônibus, cheia de ponto", conta a mãe. O bebê ainda estava muito amareladinho por causa da icterícia. Aos poucos ele foi se recuperando. "Uma enfermeira disse que eu deveria amamentar de três em três horas, para que ele eliminasse tudo pelo xixi e pelo cocô. E eu fiz tudo direitinho, não perdia a hora, mesmo durante a madrugada", lembra Fabiana. Tanto que, dois meses depois, a icterícia de Bruno estava totalmente curada.

Em seguida, os pais puderam se dedicar a investigar o problema de vista do filho. Após alguns exames, Bruno foi diagnosticado com uma má formação congênita chamada coloboma, estrabismo, miopia, catarata e também nistagmo, que são oscilações repetidas e involuntárias nos olhos. "O que ele tem poderia ter acontecido com qualquer criança", afirmou o doutor.

Com baixa visão e visão subnormal, Bruno começou a usar óculos com sete meses.
Apesar dos problemas de visão, os pais sempre procuraram estimular o desenvolvimento de Bruno. "Mesmo pequenininho, deixávamos ele tatear, procurar, achar sozinho. Ele não engatinhou, mas começou a andar na idade certa, com um aninho", lembra a mãe.

 Aos dois anos de idade, Bruno foi para a creche. Depois, já com quatro anos, ele começou a frequentar o Centro Educacional Unificado (CEU), em São Paulo, mas nunca recebeu muita atenção das professoras. "Como ele consegue fazer tudo sozinho, elas achavam que não tinham que dar mais atenção para ensinar. Mas ele só vê as coisas quando estão muito perto dele. Os coleguinhas já escreviam o nome e nem a-e-i-o-u ele sabia. As professoras não exigiam dele", lamenta Fabiana. "Depois que eu fui até lá reclamar, uma delas chegou a me dizer: 'Mãe, nem eu, nem nenhuma professora vai conseguir ensinar nada para ele em uma turma com 34 alunos."

Depois disso, os pais de Bruno decidiram matriculá-lo em um colégio particular. "Quando ele tinha seis anos, no dia das mães ele chegou com um cartãozinho em casa com o nome dele escrito por ele mesmo. Eu chorei demais", emociona-se Fabiana. "O desempenho dele em seis meses nessa escola particular foi infinitamente superior do que dois anos na outra escola. Faltava empenho para isso", considera Agnello.

Oito anos depois do nascimento de Bruno, Fabiana engravidou novamente. "Eu tinha muito medo de engravidar, mas aí a Helena veio no susto. Hoje sei que ela veio para me ajudar. Ela entende que o Bruno precisa de mais cuidado", diz Fabiana.

Com muito sacrifício, o casal conseguiu incluir Bruno num plano de saúde. "Mesmo no sufoco, sempre tentamos manter o plano para que ele possa continuar com os mesmos médicos", explica Agnello.

E foi uma das médicas com quem Bruno se consulta no convênio que orientou os pais a buscarem apoio para o filho na Fundação Dorina Nowill, onde, já há alguns meses, Bruno vem sendo atendido pela psicopedagoga e pela psicóloga. "Para mim, a Dorina significa uma coisa para o Bruno: desenvolvimento", ressalta o pai. "As pessoas muitas vezes precisam fazer uma curva para chegar no ponto. Na Dorina, a gente vai direto aonde precisamos chegar", expõe Fabiana.

Por orientação da Dorina, os pais não deixam que Bruno use artifícios para enxergar, como a lupa, para que ele não fique preguiçoso e consiga, assim, estimular ao máximo a sua visão. "Além disso, quando as professoras da escola têm alguma dúvida ou encontram alguma dificuldade para ensinar as coisas para o Bruno, elas podem sempre entrar em contato com a Fundação Dorina. Os profissionais de lá passam todas as orientações de como a escola deve proceder. Isso é muito bom, dá muita tranquilidade para a gente", afirma a mãe.

Fabiana e Agnello estão passando por graves problemas financeiros. Há alguns meses, Agnello sofreu um acidente muito sério e precisou passar por três cirurgias. O movimento nos braços ficou comprometido e ele sente constantemente muitas dores, o que impede que ele volte a trabalhar. "Eu, como pai de família, quero cumprir o meu papel. Mas está muito difícil. Não podemos deixar de pagar o plano de saúde das crianças e nem tirar o Bruno da escola particular. Não sei como iremos fazer", desespera-se.

Apesar de todas as dificuldades pelas quais a família passa desde o nascimento de Bruno, problemas esses que pioraram muito desde o acidente de Agnello, Fabiana respira fundo e, com muita força - a força típica das mães que se comprometem a fazer tudo o que podem pelos filhos, enfatiza:  "Se dizem que você não é capaz, é aí que você tem que mostrar que consegue. Nós vamos conseguir e isso é tudo o que eu quero que o Bruno aprenda."

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