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Karina da Silva Souza
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Assim que nasceu, Karina precisou ir para a incubadora, pois teve pneumonia e também icterícia. "Para tratar a icterícia, fizeram aplicação de luz sem tampar os olhinhos. Acho que isso comprometeu a vista dela", relata a mãe. Na época, minha sogra chegou a dizer "Essa não vai vingar", lembra.
Mayre e o marido fizeram, então, promessa para Nossa Senhora Aparecida. "Era minha primeira filha, eu não ia aguentar se ela morresse", desabafa.
Aos quatro meses, a mãe percebeu que uma secreção saía constantemente dos dois olhinhos do bebê. "Fomos a um pediatra e ele nos encaminhou para um oftalmologista. E disse que não poderíamos perder tempo; era muito urgente", explica Mayre.
Ao chegar no Hospital das Clínicas, Karina passou por uma série de exames. Com os resultados em mãos, o médico disse: "Mãe, talvez já seja tarde."
"Ficamos desesperados", diz Mayre.
Até que os amigos do marido decidiram fazer uma vaquinha para que Karina pudesse se consultar com um médico famoso de Goiânia. Lá, ele disse que havia um tratamento, chamado vitrectomia, que tinha 5% de chances fazê-la voltar a enxergar. "Mas custava muito caro e a gente não tinha dinheiro."
De volta a São Paulo, Mayre e Karina foram a outra clínica, que decidiu operar duas vezes a córnea da criança. "Mas não adiantou nada. Quando ela fez um ano e meio, o médico deu alta e nós não procuramos mais nada", lamenta a mãe.
"Na época, ficamos muito revoltados. Por que isso estava acontecendo conosco? Nós nunca fizemos mal para ninguém. Tinha muita preocupação, porque eu não conhecia ninguém cego, como eu iria cuidar da minha filha? Sofri muito, mas aí decidi que eu tinha que me preocupar era em encontrar um jeito de ajudar ela a se desenvolver", relata.
Mayre conta que nunca conseguiu uma creche que aceitasse e filha. Apesar de todas as dificuldades que encontrou na escola, desde o primário, Karina conseguiu concluir o Ensino Médio. "Como as escolas não tinham recursos, os professores praticamente ignoravam ela. Ela passou sem aprender matemática, física e química. As escolas nunca ofereceram recursos para que ela pudesse aprender os conteúdos", revolta-se a mãe.
Mas Karina descobriu outros caminhos que conseguiu trilhar com a ajuda das amigas. "Sempre tive poucas amigas, mas todas muito fiéis, e elas sempre me ajudaram", afirma. Aprendeu a usar o computador e estuda inglês desde menina.
A vida no bairro onde mora dificulta muito a autonomia de Karina. Ruas irregulares, sem pavimentação, a inexistência de calçadas e pontos de ônibus que ficam muito distantes de casa deixavam o dia a dia dela ainda mais difícil.
"Por isso, no ano passado eu decidi entrar no site da Fundação Dorina, pois não queria mais que ninguém fosse babá de deficiente. Decidi que eu iria conseguir andar por aí sozinha e fazer tudo o que eu mais gostava".
E assim fez. Aos 22 anos, foi com a mãe até a Fundação e logo começou a ser atendida. Fez o curso de rotinas administrativas, de informática e também a oficina "Desenvolvendo talentos". Agora, Karina está cursando o módulo "Atividades da Vida Diária", onde está aprendendo a cozinhar, e também já está em treinamento para pegar ônibus e metrô sozinha.
"No início, tinha muita vergonha de usar bengala. Ela chama muita atenção e eu sou tímida. Mas pensei: se eu quero ser independente, eu tenho que aprender. Aos poucos, fui descobrindo que tudo é mais fácil do que eu imaginava. Achava que eu iria cair muito, mas isso nunca aconteceu. O mais difícil é lidar com o nervosismo", explica Karina.
Junto dos monitores e colegas da Fundação Dorina, recentemente Karina foi ao teatro e descobriu o universo dos musicais. "Eu gostava muito de cinema, mas depois que conheci os musicais, eu não quis saber de outra coisa! Já assisti ao espetáculo 'Madrinha Embriagada', do Miguel Falabella, umas quatro vezes. Na companhia das amigas ou de algum familiar, eu chego cedo na fila e fico esperando o dia inteiro, se precisar, mas no final eu consigo meu ingresso grátis", diverte-se Karina.
Aos poucos, graças ao seu entusiasmo, a independência de Karina vai se concretizando. Ela está ensaiando uma peça, que deve ser encenada até o final do ano, busca sempre se manter ativa e faz muitos planos para seu futuro. "Gosto de ter o que fazer, de me sentir útil, viva! Quero conseguir fazer uma faculdade. Mas hoje, meu grande sonho eu sei que pode parecer simples para a maioria das pessoas: eu quero conseguir ir sozinha até a Avenida Paulista, passear por lá e ir a todos os teatros que eu puder. Quero conquistar a minha vida!"
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