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Pedro Martins Russo
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Ele nasceu com catarata cognitiva e com apenas um aninho de vida foi operado. Desde então, passou a enxergar cerca de 9% do olho esquerdo e 1% do direito. Apesar disso, tentava fazer tudo o que uma criança fazia na sua época: andava a cavalo, pescava tilápia, jogava bola e até andava de bicicleta. Assim como qualquer criança, sofria pequenos acidentes porque era muito arteiro.
Se fora da escola a vida seguia normalmente, dentro das salas de aula as coisas nunca correram muito bem para ele. "Os moleques riam de mim, ficavam tirando sarro das minhas dificuldades", conta. Como Pedro praticamente enxergava só do olho esquerdo,
ele tinha que ficar mudando de carteira para enxergar a lousa inteira e copiar as matérias. "Eu ficava muito triste mesmo. Apesar de conseguir tirar boas notas, eu voltava da escola chorando por causa das gozações", relembra. No ginásio, as professoras não ajudavam muito. "Como eu ainda enxergava um pouco, eles não se preocupavam. Não existia nada com letras ampliadas e isso dificultava muito as coisas", diz. Até que um dia, cansado de tanta humilhação e discriminação, Pedro desistiu de estudar. Largou a escola na 5a série.
Anos depois, já no início da vida adulta, Pedro havia decidido voltar para a escola e concluir o Ensino Médio. "Quando cheguei lá, no meu primeiro dia de aula, entrei todo animado na classe que eles havia separado para mim. Quando me dei conta, descobri que eles tinham me colocado numa turma de doentes mentais", lembra entristecido.
Mais uma vez largou os estudos e se dedicou apenas a trabalhar. Foi office-boy dos 14 aos 19 anos. Depois, junto do pai, foi trabalhar como servente de pedreiro e também como jardineiro. "Cheguei a fazer um jardim na casa da Elba Ramalho", orgulha-se. Ele achava muito difícil conseguir um emprego, pois acreditava que ninguém queria empregá-lo por causa do aspecto dos olhos, que ficavam sempre 'pulando', em movimentos ininterruptos.
Até que, em 2001, aos 34 anos, Pedro foi atropelado por um carro, enquanto esperava um ônibus perto de sua casa, na Estrada de Itapecerica. Ele bateu violentamente a cabeça no chão e ficou 17 dias internado. Ele teve um trauma muito grande na perna, que quase foi amputada. Ao voltar para casa, Pedro ficou um ano e dois meses de cama.
Tanto tempo depois, aos poucos ele voltou a andar. Numa dessas tentativas, Pedro sofreu uma hemorragia que provocou deslocamento em sua na retina. "Via só um risquinho preto no canto do olho e fiquei completamente cego durante um mês", narra.
Mais uma vez ele ficou internado. Não conseguiu ser operado e voltou para casa. Algum tempo depois, com a ajuda de um pároco amigo da família, Pedro finalmente foi operado e voltou a enxergar vultos. "Não via de perto e nem muito abaixo da linha dos ohos, mas enxergava alguma coisa", relata. E assim viveu até 2012.
Mas a pressão dos olhos foi subindo. Após o acidente, Pedro passou a ter Glaucoma e, por causa disso, precisou fazer mais três cirurgias no olho esquerdo. "Sem me dar conta, descobri que eu já havia ficado cego do olho direito", afirma.
As duas primeiras cirurgias não foram eficazes, mas ele ainda tinha um mínimo de visão. Mas durante a terceira cirurgia, Pedro sentiu uma dor lancinante que o deixou até sem voz. "Foi aí que eu fiquei cego", lembra. "Depois de eu me recuperar, a doutora veio conversar comigo numa linguagem tão complicada que eu não consegui entender nada. E assim fiquei: nunca soube o que aconteceu comigo", lamenta.
"Depois, perguntei ao outro médico se eu iria fazer a quarta cirurgia que estava planejada, e ele simplesmente respondeu: 'Não vamos mais gastar com isso, não. Não vai resolver nada. Não vale a pena.”
Depois disso Pedro entrou em depressão e ficou mais de um ano sem sequer sair da cama. "Eu sentia uma tristeza tão profunda que parecia que eu ia morrer. Achava que eu estava num buraco muito escuro. Eu acordava dentro do nada, vivia dentro do nada, dormia dentro do nada", descreve.
Pedro já conhecia a Fundação Dorina Nowill, mas naquele momento decidiu que não iria procurar ajuda. “De cego todo mundo desfaz. Não vou lá, não.”
Até que um dia, as doutoras Roberta e Luciana, do posto de saúde da Vila das Belezas, zona sul de São Paulo, foram até a casa de Pedro decididas a tirá-lo daquela reclusão auto imposta. "Elas vieram aqui, me tiraram de casa e me levaram para a Dorina", explica.
Pouco tempo depois, Pedro deu início às atividades na Fundação. "Fiz computação e até aprendi a usar o Facebook, que é por onde eu me comunico com a minha afilhada, que mora no Japão", relata. Ele assou também pela fisioterapia e pelas aulas de mobilidade, onde aprendeu a usar a bengala.
"No início eu tinha muito medo. Achava que nunca iria conseguir andar sozinho. Aí, na Dorina me aconselharam: 'Você tem que enxergar pelos sons'. Com a ajuda das monitoras fui praticando, aprendendo, mas ainda sentia muito medo. As ruas não têm identificação para cegos e quando os carros passavam meu coração quase parava! Mas mesmo assim decidi que iria tentar fazer meu primeiro passeio sozinho. Nesse dia, acordei bem cedo para que a minha mãe não me visse saindo. Meu primeiro passeio seria até a igreja, para que eu pudesse pedir Nossa Senhora para me ajudar. Mas o medo foi tão grande que alterei o percurso e fui parar na casa do meu irmão", diverte-se.
Até que Pedro decidiu que iria sozinho para as suas atividades na Fundação Dorina. "Toda semana as pessoas tinham que me levar na Dorina e eu sentia que eu era um peso na vida delas. Saí de casa, cheguei na calçada e uma pessoa se ofereceu para me ajudar a atravessar a avenida e me colocou dentro do ônibus. O motorista foi tão bom que parou para eu descer bem em frente ao piso tátil que tem ali na rua Botucatu. Antes de descer, agradeci: 'Obrigado por seu amor incondicional”.
Em breve, Pedro vai começar na Dorina as "Atividades da Vida Diária (AVD). "Quero aprender muito. Quero ver se eu consigo me especializar em alguma coisa, pois eu quero voltar a trabalhar. Quero me sentir mais útil, mais alegre, mais ativo.
"Dia após dia, a Fundação Dorina foi me mostrando que há outras formas de viver a vida. Aos poucos fui aprendendo também a confiar nas pessoas, pois maioria se dispõe a ajudar", comenta.
Neste momento, dona Cidinha, a mãe de Pedro, que ouvia atentamente os relatos do filho, interrompe a entrevista para dizer: "Depois que o Pedro foi para a Dorina ele virou outra pessoa.”
Pedro, então, emendou no comentário da mãe: "Tem um versículo de João* que diz assim: 'Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?' Pois é assim que eu me sinto depois que entrei para a Dorina. A Dorina foi o ventre que me deu a chance de renascer."
* (João 3:4)
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