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Gustavo Henrique de Aquino Gomes
Oinc, oinc é o que provavelmente qualquer pessoa que se aproximar de Gustavo vai ouvir, assim que conquistar a sua simpatia. Entre uma frase e outra, o divertido menino contrai o nariz, levanta a boca e solta o ronquinho do mesmo jeito engraçado que a sua querida Peppa Pig faz no desenho animado da televisão.
Irrequieto, Gustavo abraça sua Peppa de pelúcia, ao mesmo tempo em que dá um abraço na mãe e corre para a TV, onde assiste aos desenhos da família de porquinhos, que são os que ele mais ama.
Apesar de tanta vivacidade, Gustavo não vê as coisas como a maioria das pessoas. Para enxergar a TV, ele precisa ficar bem de perto para perceber as nuances de sombras, cores e movimento. A Peppa ele assiste com o nariz quase coladinho na tela da TV.
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É feliz assim e desse mesmo jeitinho enche a casa de alegria.
A gravidez de Izabel, mãe de Gustavo, foi absolutamente normal. Ela fez todo o pré-natal, seguiu todas as recomendações do médico e teve um parto muito tranquilo.
Pouco tempo depois de dar à luz, Izabel começou a perceber que os olhinhos do seu bebê eram muito irrequietos e quase não paravam de se mexer. Preocupada, ela procurou um médico que disse de supetão: "Mãe, seu filho é cego."
Inconformada, Izabel foi a outro médico, dessa vez um retinólogo. Ele pediu diversos exames e Gustavo foi encaminhado para o Hospital das Clínicas, em São Paulo. Lá, o bebê foi diagnosticado com "hipoplasia do nervo óptico", uma alteração que provoca uma atrofia que diminui sensivelmente a acuidade visual. No HC, o médico que atendeu Gustavo confirmou a cegueira e, em seguida, deu alta para o menino. Disse apenas “Não há o que fazer”.
“O diagnóstico me assustou, claro, e me deixou muito apreensiva. Não tinha a menor ideia de como iria criar o meu filho. Mas, mesmo assim, decidi que iria estimulá-lo ao máximo. Tudo o que eu poderia fazer para que ele se desenvolvesse eu iria fazer e seria a partir daquele exato momento, sem perder nem um dia, mesmo ele sendo ainda um bebezinho”, conta Izabel.
Ela e os irmãos passaram a comprar brinquedinhos que pudessem estimular Gustavo com luzinhas piscantes e sons. “E ele gostava demais. Sorria muito e batia os pezinhos de alegria”, relembra a mãe.
Aos poucos, Izabel começou a notar que o filho conseguia perceber a diferença entre as cores, mas, segundo ela, os médicos não acreditavam. "Achavam que eu estava sugestionada. Fui a dois especialistas depois disso e apesar de tudo o que eu relatava, nenhum deles pediu novos exames e ambos insistiram que meu filho era cego."
Isso fez com que ela jamais deixasse de acreditar que iria descobrir exercícios e atividades que pudessem estimular Gustavo. Tanto quanto buscar o desenvolvimento, ela também sempre teve como regra jamais superproteger o filho para não impedir o desenvolvimento dele. "Sabia que se eu fizesse coisas demais por ele, eu acabaria por retardar a evolução do Gustavo. Tanto que um tempo depois comecei a procurar uma creche, pois queria que ele começasse a se relacionar com outras crianças o quanto antes. Sabia que isso seria bom para ele", relata.
Mas nenhuma creche se dispunha a aceitá-lo. A diretora de uma das escolinhas afirmou que não poderia aceitar o menino pois nenhuma de suas professoras tinha conhecimento suficiente para educá-lo. A experiência vivida por Izabel mostrou a ela que, no geral, as professoras da rede pública de ensino não são preparadas para lidar com alunos deficientes e muitas vezes nem sabem que terão alunos especiais em suas classes. "No primeiro dia de aula de Gustavo, a professora descobriu que teria na classe um aluno cego e outro com paralisia cerebral. Ela se assustou e disse: ‘como é que eu vou ficar com duas crianças assim?' Não é má vontade das professoras, é susto!", argumenta Izabel.
"Até que quando ele fez dois anos encontrei uma creche que aceitou recebê-lo. Quando ele chegou lá ele amou! O Gustavo começou a descobrir o espaço, a andar segurando nas coisas e rapidinho todos pegaram amor por ele. Com a estimulação das tias ele conseguiu deixar as fraldinhas, começou a jogar bola, a brincar no escorregador. Foi incrível", recorda.
Com o apoio das professoras da creche, Izabel arregaçou as mangas e começou a procurar na internet orientações para a educação do filho. "Quando uma achava alguma coisa, propunha: 'Vamos fazer assim?' E fazíamos. Algumas coisas davam certo, outras nem tanto, mas a gente tentava. As tias da creche queriam achar um caminho para ajudá-lo tanto quanto eu. Tudo o que elas descobriram foi mérito delas mesmo, foi tudo resultado do interesse delas em ajudar o Gustavo", diz emocionada.
Aos poucos, as professores decidiram ensinar a ele as primeiras letrinhas. Mesmo sem prática, com a ajuda da mãe todas foram tentando achar o melhor jeito de ensinar. "Ninguém sabia muito bem como fazer, mas mesmo sem orientação, a gente tentava se virar. Tive a ideia de fazer as letras em relevo, com a ajuda daquelas tintas plásticas, e aí ele foi aprendendo. Ele começou a conhecer as letrinhas e a falar o nome de cada uma. Ele tem uma memória incrível!"
Embora todos os médicos que examinaram Gustavo tenham dito à Izabel que o filho era cego, ela jamais teve nas mãos um papel que atestasse essa deficiência. Até que no final de 2013, o sogro a ajudou a pagar a consulta de um oftalmologista muito recomendado que, finalmente, atestou que Gustavo tinha 10% de visão.
Foi esse médico que encaminhou Izabel e Gustavo à Fundação Dorina. No início de 2014, ela ligou para a Fundação e, pouco tempo depois, mãe e filho foram chamados para darem início ao acompanhamento pedagógico.
"Finalmente, meu filho iria receber acompanhamento especializado e eu e as professoras teríamos as orientações profissionais que tanto buscávamos e precisávamos".
Para chegarem até à Fundação, Izabel e Gustavo percorrem um longo caminho de mais de três horas: eles pegam um trem em Mogi das Cruzes, onde moram, param em Guaianases, depois vão até à Estação da Luz e aí pegam o metrô até a Vila Mariana. Andam alguns quarteirões até que, finalmente, chegam para o atendimento semanal.
"Tanto esforço vale a pena. O Gustavo adora ir para a Dorina. Esse é meu maior termômetro. Apesar do pouco tempo, ele já se desenvolveu bastante e de forma correta, sem invenções, sem tentativas, sem erros, como sem querer fazíamos antes. O mais bonito é que todas as professoras da creche querem estar a par do que ele faz na Fundação para conseguirem acompanhar de forma correta o desenvolvimento dele e também para poder utilizar esse conhecimento com outras crianças cegas que podem chegar um dia até a creche. O conhecimento que elas não têm em sua formação ou nas creches onde trabalham, elas acabam adquirindo por meio da Fundação Dorina", analisa Izabel. "Isso é importante demais, porque essas professoras conseguem multiplicar para outras crianças o que aprendem através do Gustavo", reforça.
Desde que começou a ser atendido pela Fundação, Izabel conta que Gustavo ficou mais "soltinho" e muito mais independente. Ele já toma banho sozinho, ajuda em casa e, em breve, vai começar a aprender o braile.
"Tudo o que eu mais sonho é que ele seja um adulto independente. E tudo o que eu puder fazer para ajudá-lo nisso eu vou fazer. Nunca vou tratá-lo como um coitadinho. Ele não é coitadinho. Ele é saudável, é inteligente e vai ser tratado como qualquer criança tem que ser tratada", expõe Izabel. "E agora que encontramos a Fundação Dorina eu sei que nós não estamos mais sozinhos nessa busca", comemora a mãe.
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